sábado, 11 de setembro de 2010

Algumas Histórias de Ana Cecília Togni

A BOLA MÁGICA
                                              

              Certo dia, Guilherme estava em seu quarto para fazer os trabalhos de casa que a professora havia mandado. O menino não estava com muita vontade – aquilo era uma chateação – ele queria mesmo ir para fora jogar futebol e brincar com os amiguinhos. Mas, seu pai disse ao sair :
         -Primeiro a lição, depois a brincadeira.
        Ele fez todos os exercícios e saiu para procurar os amiguinhos para brincar. Mas, parece que naquele dia todos tinham uma coisa para fazer e o menino acabou sozinho. Então, ele pensou :
                - “Puxa vida, ninguém para brincar ,só me resta voltar para casa e assistir televisão”.
         Quando ele ia voltando , triste, para casa, pois estava perdendo aquele bonito dia de sol, aconteceu uma coisa estranha : próximo à sua casa, há um terreno cheio de capoeira e pedras e, entre estas, meio escondida, ele viu uma velha bola de futebol, toda murcha e já sem cor.
         Ele ficou com pena e pensou : “Vou levá-la para casa, limpá-la e consertá-la”.
         E, lá se foi ele , com a bola embaixo do braço. Entrando em casa, levou-a para o tanque de lavar roupas, esfregou-a bem e colocou-a no sol para secar.
       Quando seu pai chegou, ele pediu :
        -Pai arruma esta bola para mim?
         O pai olhou a bola e respondeu :
                -Você já tem tantas bolas! Essa nem dá para consertar!
      Mas, o menino insistiu, bateu pé até o pai resolver atender o seu pedido, buscou uma bomba de encher pneu de bicicleta e encheu a bola, que ficou com uma aparência bem melhor, limpa e bem cheinha.
        Guilherme brincou um pouco com ela e depois a levou para o quarto, pois tinha de ir para a escola.
              À noitinha, quando voltou para casa, foi procurar sua nova amiga e, ao abrir a porta do quarto, arregalou os olhos com o que viu : bem ali, na sua frente, havia uma “guerra” de brinquedos.
          “A bola” comandava, pulando de uma para outra parede; os bonequinhos, “os comandos em ação” lutavam entre si, ou corriam uns atrás dos outros; os carrinhos e jipinhos deslizavam velozmente pelas paredes e pelo chão; livros e cadernos faziam pares com lápis e canetas, dançando uma música maluca, que era executada por um par de luvas de goleiro, no órgão eletrônico.
        O menino ficou parado na porta e a “bola” veio ao seu encontro dizendo :
           -Não se assuste! Entre e venha brincar conosco! Eu explico tudo para você.
           Então, ela falou :
                    -Fui fabricada há bastante tempo, num lugar longe daqui.Com uma porção de outras bolas, fui para uma loja, mas como não era muito bonita, fui ficando lá. Todas as outras foram vendidas e eu fiquei sozinha. Acabei indo parar no depósito.
            Um dia, estava num canto bem escuro quando , de repente, não sei vindo de onde, apareceu um gnomo que me falou que, já há algum tempo, me acompanhava.
            E disse, ainda , para eu não ficar triste, que um dia eu encontraria alguém que gostasse de mim e seria meu amigo, então, eu poderia ser feliz e até falar.
           O tempo passou , um dia fizeram limpeza no depósito e me levaram junto , com o resto da sujeira. E, quando passávamos aqui perto , caí do caminhão e você me achou. Como mostrou que gosta de mim a mágica funcionou.
         O menino estava maravilhado e, então, “a bola” ainda disse :
                -Não conte isto para ninguém e você não precisará ficar mais triste.
         Quando seus amiguinhos não puderem brincar com você, eu estarei aqui e, nos jogos de futebol, leve-me sempre com você, pois quando você jogar no ataque faremos belos gols juntos e , quando você jogar como goleiro, irei , bem direitinho , parar em suas mãos , para depois ficar bem juntinho do seu coração.
         E , assim aconteceu , daquele dia em diante e,até hoje, a velha bola e o menino formam uma dupla imbatível nos campos de futebol da vizinhança.



 VOVÔ MOISÈS


                        Hoje, 1992, se entrássemos numa máquina de tempo e a programássemos para retornar a Lajeado de 32, 33 anos atrás, o que veríamos?
                        Uma cidade bem pequena começando a progredir, ruas sem calçamento, o Rio Taquari limpo, sem poluição, o Parque Municipal junto ao Clube Tiro e Caça com seu lago e sua pequena cascata de água fresquinha.
                        É história desta época que quero lhes contar.
                        É nesta cidade, que um grupo de crianças viveu muito feliz, foi à escola, andou de carrinho de lomba, e também foi a matine num cinema que se chamava Avenida.
                        Mas, essa turma de meninos e meninas gostava muito de brincar pelas ruas e foi numa dessas aventuras que aconteceu um fato que a tornou muito especial.
                        Senão vejamos: um dia cansados das brincadeiras de rotina, resolveram fugir dos olhares atentos das mães e explorar um pouco mais a cidade de que tanto gostavam. Saíram fugidos, acompanhados de um cão Pastor Alemão chamado Rin-Tin-Tin, após andarem pelo Parque Municipal e explorarem o velho moinho com sua roda d’água e seus pequenos martelinhos musicais, um deles disse:
                        -Vamos subir por esta rua para ver onde vai dar?
                        Uns queriam ir, outros tinham medo, após discutirem o assunto por alguns minutos, todos acabaram concordando e lá foram eles, como um pequeno bando de exploradores, subiram a rua, tropeçavam, olhares espantados, tudo era diferente para eles. Caminhavam, os maiores levando os menores pela mão, jogavam pedrinhas e colhiam florzinhas nos terrenos baldios, onde hoje existem belas casas, a rua que era então diferente chama-se hoje Lothar Felipe Christ.
                        E, eis que de repente, aconteceu o inesperado, ao passarem diante de uma casa quase no fim da rua se surpreenderam com o que viram, um senhor de pele bem escura, cabelos já branquinhos que naquele momento estavam cobertos por um chapéu, estava ali a tomar sol daquela linda manhã. O grupo se assustou um pouco a principio, mas, ele lhes sorriu mansamente e eles responderam ao cumprimento e foram indo embora ruidosos como sempre. Após algum tempo, retornaram para casa e contaram para as mães a sua aventura, descobriram então que aquele senhor chamava-se Moisés Cândido Veloso, mas para eles, a partir daquele dia, passou a ser apenas o Vovô Moisés, que eles muitas vezes voltaram a visitar nas suas explorações e aventuras.
                        Se a máquina do tempo do início de nossa história voltasse agora para 1992, encontraríamos aquelas mesmas crianças, hoje adultos, alguns em Lajeado, os outros em diversas cidades do Brasil e se perguntássemos a cada um deles como você lembra do Vovô Moises? Eu tenho certeza de que todos lembrariam dele com muito carinho e um afeto muito grande, pois naquela época nenhum deles sabia da sua cultura, da sua vontade de ensinar aos outros o que sabia, nem que era um grande músico, nem que com uma determinação constante fundou um jornal, e que também tinha como ofício acender lampiões de gás que iluminavam as ruas, nada disso sabiam, sabiam apenas que era um avô muito querido que eles aprenderam a conhecer e respeitar, pela sua simplicidade e seu jeito de falar. Lajeado hoje é bem diferente, uma cidade que cresce, as ruas tem calçamento e até asfalto, as crianças quase não brincam e correm por elas. A antiga casa do Vovô Moisés, também não existe mais, mas, agora há outra casa maior, que não é a dele, onde um pequeno grupo de crianças ficava no pátio para ouvi-lo, mas, que leva seu nome e onde muitas crianças adquirem conhecimentos que ele tanto queria que todos tivessem.
                        Esta é a história que eu queria lhes contar, a história de um homem bom, culto, e que ao doar seu terreno para a construção de uma escola, deu oportunidade para as crianças daquele tempo e para todas as outras que vieram a seguir e que ainda virão, transformarem-se nos adultos de hoje e de amanhã que continuarão preservando e honrando o nome deste homem tão importante para Lajeado, mas que será sempre para mim e minha turma de infância o “Vovô Moisés”.


 O BALÃOZINHO AMARELO

            Era um dia de festa,naquela pequena cidade.Nas ruas,todos corriam para terminar de limpar  e enfeitar suas casas.
            No meio desta confusão toda,parado em uma esquina,um vendedor enchia de gás várias bolas coloridas e,outras tantas de formas variadas.Enchia-as e formava um feixe.
            De repente,numa lufada de vento,uma delas se soltou e começou a subir em direção ao céu.Era um balão bem amarelinho.
            Ao ver-se livre das amaras,ficou deslumbrado:viu árvores,lagos e brincou de esconde-esconde com os pássaros que voavam por ali.
            Mas,depois de experimentar coisas tão diferentes,começou a sentir-se sozinho;Então pensou: “não posso ficar assim para sempre,tenho que procurar um amigo.”
            Começou então a descer para perto dos telhados das casas,mas,ali,também não viu ninguém.
            Voou então,aproximando-se de um poste,atraído pela luz,pois já estava escurecendo.
            Balançou-se de um lado para outro e, do lugar onde estava,conseguiu espiar por uma janela.Lá dentro,uma menina lourinha brincava no chão.
            O balãozinho amarelo esperou outra lufada de vento e foi até lá,colocando-se junto aos outros brinquedos.Não se sentia mais sozinho,tinha ali animaizinhos diversos,bonecos,bolinhas e aquela menina loura,que ele descobriu chamar-se Camila e que bagunçava tudo.
            Daquele dia em diante,para espanto da vizinhança,de vez em quando,se o sol estiver brilhando e houver um bom vento,por aquela janela, saem para passear um balãozinho amarelo e uma linda menina lourinha de cabelos cacheados.
            E, quando anoitece,depois de perambular pelo céu,brincar com nuvens e pássaros,eles voltam felizes para casa.

O PEIXINHO VOADOR


     Tavico é um garoto esperto e adora brincar.
            Seu pai gosta muito de pescar e, certo dia,quando pescava num grande rio,entre os peixes que vieram com a rede,estava um peixinho bem pequenininho.
            O pai de Tavico pensou:
            “É muito pequeno para comer, vou devolvê-lo à água do rio,onde possa nadar e crescer.”
            Mas, aí ele lembrou do filho e disse para um amigo que estava junto :
            -Vou por este peixinho numa latinha com água e levá-lo para o Tavico.
            O amigo concordou,pois o peixinho era realmente muito bonitinho e colorido.
            À tardinha,após terem pescado bons peixes,os amigos retornaram para casa e, ao ouvir o barulho do carro do pai chegando,Tavico correu para a porta e, ao abraçar o pai este lhe disse :
            - “Tavico venha ver o que eu trouxe para você.”
            O menino espiou dentro da latinha e começou a bater palmas de contentamento ao ver o peixinho.
            A mãe do menino preocupou-se ,pois o peixinho não poderia ficar na latinha onde tinha vindo e por isso  providenciou um aquário, onde colocou pedrinhas e plantas verdinhas e, lá , o peixinho foi posto para morar.
            O pequeno peixe estranhou aquele local, era diferente do rio,bem menor,mas a água era limpa e dali ele podia olhar ao redor e ver a sala onde a família de Tavico costuma reunir-se.
            Mas,além de arrumar o lugar para o peixinho ficar,era necessário alimentá-lo,o menino perguntou à mãe :
            -O que vamos dar para ele comer?
            Dona Maria (mãe de Tavico) pensou um pouco e decidiu :
            -Vamos dar a ele farelinhos de pão e, amanhã ,vamos ao mercado comprar comida de peixe.
            No outro dia ,assim o fizeram e, quando foram ao aquário para dar comida ao peixinho, levaram um susto – ele não estava mais lá -.
            Procuraram daqui e dali e, o encontraram embaixo do sofá.
            Como teria ele ido parar ali?
            Recolocaram-no no aquário e, enquanto conversavam, aconteceu de novo, isto é,viram o peixinho saltar do aquário.
            Mais uma vez , Tavico ajuuntou o peixinho e o colocou na água.Tudo ficou calmo de novo.
            No dia seguinte, quando o menino foi dar comida ao peixinho, este nadou  até a superfície do aquário pra pegar a comida e, o menino começou a falar com ele :
            -Por que você gosta de saltar para fora do aquário?
            Aí para sua surpresa,ele olhou para o peixinho, que mexia a boquinha, e falava como se fosse gente :
             -Eu sou um peixinho voador, uma espécie bem rara, moro no fundo dos grandes rios e só apareço na superfície ,de muito em muito tempo, e somente posso revelar isso para pessoas muito especiais assim como você.
            E, continuou falando:
            -Por isso,não se espante se algumas vezes você me encontrar no chão, por aí, ficar aqui é muito bom, mas, vou lhe pedir um favor,assim que tiver oportunidade me leve de novo para o rio, lá é o meu lugar.
            O menino ficou espantado com tudo aquilo, mas, apesar da tristeza,alguns dias depois pediu ao pai que o levasse juntamente com o peixinho até o local onde ele o tinha encontrado.E, assim foi feito.
            Quando lá chegaram, Tavico pegou o  peixinho do aquário e, o estava colocando  na água do rio, quando este, novamente falou :
            -Aguarde aqui,vou chamar minha mamãe.
            Tavicou esperou.Daí a pouco, apareceu  a Sra Peixe – linda grande e colorida como o filho – esta então lhe disse :
            -Você foi amigo de meu filho, por isso quero lhe dar um presente, que para nós é muito especial.
            Então mexeu com uma de suas nadadeiras e ali estava uma pequenina pedra ,bem branquinha.
            E, ela prosseguiu:
            -Apanhe esta pedrinha, e quando você estiver por aqui e , precisar de ajuda, segure-a firmente em sua mão e isso será um sinal,  para que possamos vir em seu socorro.
            Tavico guardou a pedrinha com cuidado ,enquanto a Sra. Peixe mergulhava no rio acompanhada alegremente por seu filhinho.
            Passados alguns dias,Tavico foi  pescar com o pai naquele mesmo lugar, e, com saudade do peixinho, apertou em sua mão com bastante força a pedrinha branca.
            E, para sua surpresa , uma família de peixes apareceu para vê-lo,papai peixe, mamãe peixe e o peixinho que disse também estar com saudade.
            Eles ficaram por ali um pouquinho e lhe disseram  que sempre que quisesse era só chamar que eles viriam .
            Tavico ficou vendo-os mergulhar e guardou a pedrinha  com cuidado,pois  ela era a maneira que ele tinha para chamar aqueles queridos amiguinhos que moravam tão distante, lá bem no fundo daquele grande rio.       

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